sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sentido voluntário de cidadania

Vanderley de Brito

Todo mundo fala da situação degradante em que vive a Pedra do Ingá. O queixume é perene, assim como são diversas as alternativas apresentadas continuamente para que a Pedra não continue perecendo às intempéries. Mas são apenas palavras. Demagogas palavras ditas na confortante situação de supostos indignados. Na verdade, poucos realmente fazem algo pela salvaguarda daquelas inscrições. Apenas criticam informalmente as forças governamentais que não agem em projetos de conscientização ou infra-estrutura para aquele patrimônio do riacho Bacamarte, como que se a Pedra fosse apenas responsabilidade estatal.
A Pedra do Ingá, embora seja tombada como Patrimônio Nacional, é um importante e complexo legado de sociedades pré-históricas que guarda testemunhos de uma aurora dos tempos ainda completamente incógnita para a ciência. E, nesse aspecto, é um registro ancestral das primeiras manifestações artísticas e documentais do homem. O que lhe confere a condição de autêntico patrimônio da humanidade.
Esta perspectiva, por si só, faz com que este patrimônio seja responsabilidade de todo ser humano que prima por suas raízes e autoriza qualquer consciente ação que venha proteger o monumento.
Ali, na Pedra do Ingá, não precisa de mega-investimentos. Ela sobreviveu ao tempo por milhares de anos, selvagem, sem precisar de investimentos milionários. E assim permaneceria se a área não tivesse sofrido impactos por desmatamento, poluição do riacho e construções civis.
Sendo assim, ações que possam vir a minimizar a degradação ambiental poderiam ajudar a natureza a manter a Pedra em franca preservação. Plantar árvores nativas na região para sombrear o lajedo, como o era primitivamente, já ajudaria muito a recompor o cenário propício à preservação. A mata ciliar, pode também contribuir na filtração dos agentes poluentes das águas do Bacamarte.
São ações simples assim que a Pedra precisa para se manter. Ações que não exigem grandes investimentos e que qualquer cidadão bem intencionado pode fazer com a família. Replantio de mudas que possam em poucos anos devolver ao vale a pitoresca sombra e água fresca de outrora.
As forças governamentais são quem menos podem fazer pela Pedra do Ingá. Pois ali é área de tombada e isso torna mais dificultoso uma ação, mediante toda a burocracia que envolve: requer desapropriações, laudos técnicos de diversos segmentos ambientais, científicos, econômicos e patrimoniais. E tantos outros empecilhos que acaba empacando: porque um segmento não concorda com o outro, uma ação pode privilegiar um e prejudicar outro, e assim por diante.
É muito mais fácil o cidadão agir, seja plantando mudas, trazendo uma nova cerca de proteção para a Pedra ou até trazendo uma vassoura e produtos de limpeza para a higiene do prédio de apoio e do museu. Tudo é válido, desde que feito voluntariamente com sentido de cidadania.

Contribuição do Historiador vanderleydebrito@gmail.com

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