O livro “Macunaíma o herói sem nenhum caráter”, obra-prima de Mário de Andrade, trata de um índio amazonense da tribo dos Tapanhumas, índios-negros que habitavam o vale Uraricoera, que possuía dois irmãos: um já velhinho e o outro “na força de homem”. Com a morte da mãe, os irmãos partem em busca de aventuras. Guiados pelo prazer, pelo medo e pelo oportunismo, estes aventureiros apresentam uma mobilidade incrível, percorrendo inúmeras localidades do Brasil, deparando-se nesse percurso com inúmeros personagens reais e lendárias. Uma fantástica narrativa, em linguagem plurirregional, misturando lendas indígenas com a vida urbana das cidades, pessoas, contos, costumes e fatos da história brasileira. Segundo o próprio autor, a obra teria sido composta justapondo trechos de outras fontes para formar unidade no conjunto.
Curioso notar que numa passagem do livro o personagem protagonista, em fuga galopante da velha Ceiuci, passou decifrando letreiros indígenas pelo Ceará, Rio Grande do Norte e depois, na Paraíba, “indo de Manguape pra Bacamarte, passou na Pedra Lavrada, com tanta inscrição que dava um romance. Só não a leu por causa da pressa que ia”.
Esta citação se refere à nossa Pedra do Ingá e foi copiada do livro “Cidades petrificadas e Inscrições lapidares”, escrito em 1887 por Tristão de Alencar Araripe, que por sua vez foi transcrita do opúsculo “Lamentações Brasílicas”, de padre Francisco Telles de Menezes, escrito entre 1799 e 1806. O que comprova ser a obra de Mário de fato uma rapsódia.
Todavia, a observação: “com tanta inscrição que dava um romance”, não consta nas notas do padre Telles, que diz apenas o seguinte: “onde está uma pedra, que está xeia de letreiros, de que lhe vem o nome”. Então, de onde Mário, naquela época, tirou a conclusão de que na Pedra Lavrada da Paraíba havia tantas inscrições que dava um romance? Pois, Macunaíma foi publicado em 1928 e a Pedra do Ingá era ainda desconhecida em fontes bibliográficas, só havia, à época, com seguridade de localização, esta vaga indicação acima citada de padre Telles e outra breve notificação de 1885, na obra “Investigações sobre a arqueologia brasileira”, de Ladislau Netto, com a seguinte frase: “inscrições nas escarpas da serra do Bacamarte”, seguramente também pinçada do original de padre Telles, que era de domínio da Biblioteca Nacional.
A Pedra do Ingá só passou a ser estudada em 1941, por Leon Clerot e Mário Mello, só depois que Anthero Pereira Jr. - a partir do material fotográfico que Clerot lhe enviara - processou o tombamento da Pedra do Ingá (1944) e a fez célebre.
Fica, portanto, a dúvida: Será que Mário de Andrade arriscou um palpite? Ou será que ele tinha algum informante, que por ventura já havia visto aquela extraordinária profusão de inscrições da Pedra do Bacamarte?
Contribuição do Historiador vanderleydebrito@gmail.com
Curioso notar que numa passagem do livro o personagem protagonista, em fuga galopante da velha Ceiuci, passou decifrando letreiros indígenas pelo Ceará, Rio Grande do Norte e depois, na Paraíba, “indo de Manguape pra Bacamarte, passou na Pedra Lavrada, com tanta inscrição que dava um romance. Só não a leu por causa da pressa que ia”.
Esta citação se refere à nossa Pedra do Ingá e foi copiada do livro “Cidades petrificadas e Inscrições lapidares”, escrito em 1887 por Tristão de Alencar Araripe, que por sua vez foi transcrita do opúsculo “Lamentações Brasílicas”, de padre Francisco Telles de Menezes, escrito entre 1799 e 1806. O que comprova ser a obra de Mário de fato uma rapsódia.
Todavia, a observação: “com tanta inscrição que dava um romance”, não consta nas notas do padre Telles, que diz apenas o seguinte: “onde está uma pedra, que está xeia de letreiros, de que lhe vem o nome”. Então, de onde Mário, naquela época, tirou a conclusão de que na Pedra Lavrada da Paraíba havia tantas inscrições que dava um romance? Pois, Macunaíma foi publicado em 1928 e a Pedra do Ingá era ainda desconhecida em fontes bibliográficas, só havia, à época, com seguridade de localização, esta vaga indicação acima citada de padre Telles e outra breve notificação de 1885, na obra “Investigações sobre a arqueologia brasileira”, de Ladislau Netto, com a seguinte frase: “inscrições nas escarpas da serra do Bacamarte”, seguramente também pinçada do original de padre Telles, que era de domínio da Biblioteca Nacional.
A Pedra do Ingá só passou a ser estudada em 1941, por Leon Clerot e Mário Mello, só depois que Anthero Pereira Jr. - a partir do material fotográfico que Clerot lhe enviara - processou o tombamento da Pedra do Ingá (1944) e a fez célebre.
Fica, portanto, a dúvida: Será que Mário de Andrade arriscou um palpite? Ou será que ele tinha algum informante, que por ventura já havia visto aquela extraordinária profusão de inscrições da Pedra do Bacamarte?
Contribuição do Historiador vanderleydebrito@gmail.com
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