quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A seca está na lembraça dos moradores de Ingá

Açudene (Ingá-Pb)
Mapa de Ingá-PB
Na paisagem de campos cobertos de pastagem rala que se estendem pelas colinas suaves ou pelas montanhas mais elevadas que ficam a oeste (a frente do Planalto da Borborema) surge o município de ingá.
Alguns arbustos e poucas árvores de pequeno porte, como o juazeiro, o marmeleiro, a jurema, a baraúna, a canafístula, a aroeira e o angico, recobrem a terra que, no passado, foi ocupada por uma floresta exuberante. Com a morte da mata nativa, os animais foram pouco a pouco desaparecendo. Raros tatus, nambus, tamanduás e gatos maracajás são avistados por estes campos. A ação devastadora do homem - na luta pela expansão do espaço agropastoril - transformou as condições naturais, acentuando o clima quente (com temperaturas que oscilam entre 20ºC e 32ºC) que convive com períodos de estiagem que, às vezes, se prolongam por seis ou sete meses a contar de setembro. Foi assim que se formou a caatinga litorânea.
Aqui a seca não é fenômeno dos últimos anos. Ela está presente na lembrança dos moradores mais antigos da região e nas linhas dos livros de alguns autores que traçam um melancólico retrato da situação, como José Américo de Almeida:
“(...) Lodos os anos os habitantes da Vila do Ingá, da povoação de Gurinhém e de outros lugares da caatinga vêem a poucas léguas, ao nordeste, cair sucessivas cargas d’água sobre a Borborema, enquanto as suas várzeas, sulcadas de camaleões, ainda apresentam o desolador aspecto de uma vegetação sequiosa e em letargo.” (Almeida, 1980, p.l37)
Outros, como Irineu Joffily, em 1909, mencionavam as mudanças ocorridas na paisagem devido à ação humana:
“(...) a segunda zona ou secção é a das caatingas, que ao oeste chega ao pé da Borborema, estendendo-se ao nordeste pelo Valle do Curimataú até os limites dos municípios de Araruna até o de Cuité, mais ou menos, e ao sudeste acompanha o Vale do Parahyba até a barra do Bodocongá (...). A caatinga é zona seca, em diversas partes tanto como no sertão e com vegetação idêntica, mas, em geral, os terrenos (os argilosos) são muito férteis e bem aproveitados para a cultura de todos os cereais e, principalmente, do algodão, cultura esta que aniquilou as matas de que eram cobertas, transformando-os em vastos campos próprios para a criação.”(Joffily, 1892, p. 129/130)
No entanto, a cada ano, a ausência de chuvas regulares não impede que, por exemplo, regiões como a Serra Verde, a do Gentio, dos Pontes, Velha, Zabelê e Rajada, produzam uma expressiva quantidade de frutas, todas essas serras pertencentem ao sistema da Borborema, onde os terrenos, por serem rochosos, não são adequados à fruticultura.
A água que falta na estiagem sobra no inverno. O município é cortado por inúmeros rios e riachos, sendo que o maior e mais importante é o Rio Bacamarte, também conhecido como Rio Ingá, afluente da margem esquerda do Rio Paraíba e que está intimamente ligado à história da cidade. Afinal, foi através dele que o conquistador branco adentrou por este sertão pela primeira vez.
Os rios Surrão, Cachoeira, Gurinhém e Paraibinha e os riachos João Pinto, Arruda, Mamoeiro, Barrinha, Mata-Negro e Caruru completam a hidrografia local, mas permanecem secos durante grande parte do ano, no período de estiagem.
A paisagem do Ingá, como não poderia deixar de ser, reflete a ação do homem sobre a natureza e o seu domínio sobre ela, mas trata-se de uma vitória relativa porque também a natureza se rebela. Aquele que foi e continua sendo predador a ponto de dominar a floresta, os animais, a terra e as águas, sofre hoje as conseqüências da sua ação. É a resposta da natureza a mais de trezentos anos de agressões em nome do progresso.
No entanto, nem sempre foi assim, houve um tempo em que o homem estava mais próximo a ela... Um tempo em que a terra não era uma mercadoria, em que as matas, os rios e os animais eram importantes, na medida em que garantiam a sua sobrevivência. Um tempo muito longínquo quase perdido na nossa memória.

Lages (Ingá-Pb)


Um comentário:

rick disse...

Nasci no ingá ha um bom tempo e tambem ja faz alguns anos que nao visito. Ja tomei muito banho na pedra lavada ou lavrada? E sinto muita falta de minha querida ingá. Tenho irmaos por parte de pai mais que infelizmente nao tenho contato. Otimo encontrar esse blog, Parabens pelo mesmo.